sexta-feira, novembro 02, 2007

Nascida entre bruxas. E bananas!

Naquela noite me abandonaram na sala de cirurgia, de tão apaixonados que ficaram todos por você, aquele bebezinho lindo de grandes olhos negros... Já ali você começou a enfeitiçar o mundo, como uma das autênticas. O vigia me encontrou lá pelas duas da madrugada, eu pensando que aquilo ali era o céu, ainda grogue da anestesia:

- Que horas virão os anjos?

Tomou um baita susto quando viu meus olhos abertos surpresos e perguntou:

- O que é que você está fazendo aí?

Aquele homem de uniforme em nada se parecia um anjo, mas “não se deve julgar ninguém” – pensei, e disse:

- Estava lhe esperando!!!

O homem disse “hunf” e saiu apressado, resmungando:

- Deve ser mais uma bruxa! Ai que dia!

Fugiu aborrecido o meu anjo e eu continuei na maca até que ele retornasse com mais dois "gabriéis" que me levaram para o quarto. Só fui te ver novamente no dia seguinte. Linda!

Certo, certo! Eu sei que já contei essa história trilhões de vezes pra todo mundo e sempre no dia do seu aniversário, mas é que as mães têm esse direito, o de repetir a mesma história do nascimento de seus filhinhos no dia de seus aniversários, ainda que seus filhinhos já não sejam mais lá tão “inhos” assim... Adoro contar essa história, aliás, adoro contar todas as histórias! E adoro suas reações com as histórias que conto, como esta última da casca de banana rejeitada. Você achou engraçada enquanto eu ainda me espanto com a reação daquele homem, indignado e ofendido por eu ter colocado a casca da banana comprada em outra barraca, na lixeira da barraca dele.

Mas você tem razão, de certa forma, agora que estou aqui em casa, tranqüila e longe daquela feira barulhenta, estou até rindo mesmo da situação.

E dá pra rir desde antes, inclusive, na barraca em que comprei a banana, quase duas da tarde e eu morta de fome e de calor naquela Teresina de cajuínas cristalinas:

- Quanto custa a banana?

- Um e cinqüenta a dúzia.

- Mas eu quero uma só...

Crente que a cabocla ia me oferecer a banana, fiquei surpresa quando ela apreçou:

- Quinze centavos.

Difícil achar quinze centavos dentro dessa bolsa de viajante, mas cavoucando bem lá dentro acabei encontrando uma moedinha de vinte e cinco.

- Fique com o troco – Disse eu “generosa”.

- Quero não. Tome seu troco. – Lá estava eu aprendendo com a vida!

Hoje rio, mas fiquei um bocado atônita com aquele homem tirando de dentro da cestinha de lixo a casca da banana e jogando no chão, com as mãos nos quadris, sotaque nordestino, desafiador.

- Oxente! O que é isso? Onde já se viu uma coisa assim?

E eu parada sem reação. Tão gostosa a banana, tão amiga naquele momento de fome extrema, tão minha depois dos quinze centavos, e aquele homem jogando sua casca com raiva naquele chão tão imundo das ruas do centro de Teresina. Ela não merecia isso! Um fim tão indigno. Tanta gente olhando e eu tão sem reação.

Corri lá dentro das minhas gavetas para encontrar uma saída para minha catatonia e, num rompante de solidariedade com aquela casca rejeitada, me desculpei com o homem, abaixei-me e recolhi do chão, com as duas mãos, os restos mortais da deliciosa banana, com a reverência que merece um corpo morto depois de cumprida sua tarefa nesta vida.

- Você é louca, mamãe!

Sou nada!

Louco é aquele homem incapaz de receber em sua lixeira a casca da banana de outrem e loucos são os médicos que me esqueceram na mesa de cirurgia logo depois que você nasceu – tá certo que você sempre foi assim linda, maravilhosa, apaixonante, delirante, inteligente, cheirosa, amorosa, gostosa...

- Mãe!!!

Tá bom, parei.

P.S. Feliz aniversário, minha amora!

8 comentários:

Julia Pessoa disse...

kkekekekekekekekek!

quando vi o titulo pensei que vc ia contar q me achou na lixeira e que eu era a filha da macaca chita. hehehehe!

tronha linda do meu coração!

tô indoooooooo!

Morgana Pessôa disse...

E então você não sabe o medo que eu tenho de ser transformada numa sapa?

Anônimo disse...

Como diria a minha sobrinha adolescente: Pára tudo!

Este conto é maravilhoso. Me emocionei do princípio ao fim.

PALMAS, PALMAS E MAIS PALMAS!!!!

Abs

Denilson

Anônimo disse...

gostei muito do conteudo do seu blog,
mas não consegui enviar uma mensagem,
não entendo o mecanismo de contato.
- Muito prazer, vc causou em mim, muito prazer.
Entre a vaca e a bunda pintou um clima eros, mas deslizou (...).
Esqueci o final, grande bju.

Anônimo disse...

Muito bom , amei este seu artigo !
por sinal , tudo que vocÊ faz , nada tem a contestar, você é ótima !!
Fez voa viagem ?
Parabéns também pela foto.
Deus a proteja sempre.
Abraço.

Anônimo disse...

Olá Morgana li o seu artigo sem tropeçar na casca de banana.
Curioso como os brasileiros sempre conseguem transformar coisas simples em historias cheias de sumo.
Tenha um resto de fim de semnana com tudo de bom.

Anônimo disse...

Um beijo, mamãe banana. Adorei!

José Calvino disse...

Escritoramiga Morgana,
Os seus contos são envolventes!!!
Fez-me lembrar de uma marchinha de carnaval que diz assim: "Foi numa casca de banana que eu pisei, pisei! Escorreguei, quase caí..."
E outra: "Chiquita Bacana Lá da Martinica Se veste numa casca de banana nanica..." Valeu! Você é maravilhosa!!!
Abração do,
Calvino