quarta-feira, outubro 10, 2007

As Vacas de Copacabana

Saí cedo. Não é fácil pegar um lugar ao sol, ainda mais ao lado dele. Então saí cedinho, acompanhando o dia que crescia colorido, um dia limpo, sem névoas, sem máculas. Um dia assim feliz, assim carioca!

Pedi licença ao “Jonas Calo” que está morando no meu mindinho direito e meti os pés num conga... Ops! Que coisa antiga: conga! Pois meti os pés num tênis e o resto num vestidinho voal.

E fui desse jeito, como a brisa – se é que a brisa se põe de vestidinho voal e tênis – andar no calçadão, tomar meu sol de sábado, ver aqueles outros “eus” caminhantes, pra lá e pra cá com seus “walk-mans...” Ops! Olha eu de novo no mundo do antigamente!

Pois estavam lá os outros “eus” caminhantes com seus cada vez menores MP3 Players, de um lado para o outro, alguns disputando a ciclovia com os ciclistas-atletas e os ciclistas-papais com seus filhotes de cadeirinha.

- O mar continua ali, desde sempre. As montanhas também. Vou passar por esta vida e as montanhas vão ficar, o mar vai ficar... Mas por quanto tempo?

Os olhos para o outro lado da avenida e a cabeça divagando: - Os edifícios também vão ficar. O asfalto... E essa vaca...

E quase tropeço nela. Tinha uma vaca no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma vaca. Não estou brincando não!!! Tinha mesmo, aliás, tinha não, tem, pois continua lá. É a “Vaca da praia”, uma escultura realizada em concreto e areia, deitada no calçadão da orla. Interessante a obra. Não entendi o propósito do tema, nem o porquê de uma vaca na praia, mas deve ter uma razão. Certamente tem, tudo tem uma razão, ou tinha antigamente...

Volteei a vaca três vezes - disseram que dá sorte e paguei o mico com fé na vida.

Andante, em busca do meu lugar ao sol ao lado dele, dei de cara com um monte de bundas empinadas na areia de Copacabana.

- Ah! Mas o que é isso? Você nunca viu as “bundas de Copacabana”?

As de verdade sim, estão lá diariamente e muito mais aos finais de semana, mas estas são de areia mesmo, como a vaca. Mulheres esculpidas em areia, deitadas de bruço “bronzeando as costas” e de biquínis. Obra de um certo Mestre Bira. As bundas empinadas além da conta, com os biquínis além da conta... Feias. As verdadeiras bundas de Copacabana são muito mais bonitas e bem cantadas nos versos dele: “A bunda são duas luas gêmeas em rotundo meneio. Anda por si na cadência luminosa, no milagre de ser duas em uma, plenamente” (CDA).

Chamei a minha própria e seguimos pela praia afora: “a bunda se diverte por conta própria” (CDA) – diz o poeta. Fomos rindo, ela e eu.

Muito mais nos rimos ainda quando encontramos o poeta ao lado dela. Não da bunda, mas da vaca. Outra escultura, desta vez em metal.

- Copacabana está cheia de vacas!!!

- Você só notou agora?

Estou ainda para entender o que faz a vaca – além de graça – posta ao lado da escultura de Carlos Drummond de Andrade, lendo.

- Ta lendo um livro dele, claro!

Cheguei pertinho pra ver se o livro era dele mesmo. Nada prova. É só um livro sem título, sem letras. E vacas não sabem ler... Ou não sabiam antigamente...

Disseram que as vacas vieram de São Paulo. Se eu disser que isso parece mesmo coisa de paulista – típico humor paulistano –, vão me acusar de bairrista. Então não falo nada, faz de conta que nem estou mais aqui. Mas que disseram que as vacas vieram de São Paulo, isso disseram.