sábado, setembro 01, 2007

Você quer casar comigo?

A última vez que sorri você estava ao meu lado. E de lá pra cá eu andava triste, achando que o amor é mesmo aquela disfunção hormonal que não tem nada a ver com empatia, magia ou transcendência. E se o amor é apenas isso, então quem me dirá sobre o romantismo? Esse “ismo” tão démodé.

Minha prima não acha.

Démodé ou não, eu estou sempre esperando um bocado desse “ismo” nos meus envolvimentos, digamos, românticos, e, naturalmente, como quem espera nem sempre alcança, coleciono decepções.

Mas minha prima não.

Casamento também é outra coisa que está absolutamente saindo de moda; hoje em dia ninguém casa, ajunta.

Minha prima ajuntou.

O tempo para se comemorar bodas precisa ser urgentemente alterado sob pena de desaparecer. Estão no fim as comemorações de cinqüenta anos de casados. Imagina! Cinqüenta anos? Never more. Acabou. Bodas de Ouro tem que passar a ser comemorada, no máximo aos quinze anos de união.

Minha prima já comemorou.

Proponho que fique assim, então: Bodas de Prata aos sete anos e meio e Bodas de Ouro aos quinze anos. Convenhamos que nestes tempos pós-pós-modernos, se alguém, depois de quinze anos ao lado de outrem, ainda não tiver desejos de separação, então, pode assumir o “mico” e casar com seu companheiro no melhor estilo démodé moderno, com direito a alianças, arroz nos noivos, latas no carro, lua-de-mel, jogar buquê e tudo o mais.

Minha prima vai casar.

Depois de dezesseis anos ao lado de seu companheiro, com quem tem uma linda menina – hoje moça de quinze anos – recebeu o inusitado pedido. Estão nos proclamas e vai ter festão.

Eu, que nem gosto de festão, vou assim mesmo. Quero celebrar o amor e o romantismo! Mas declino do buquê. Nesta hora, estarei próxima ao bar tomando um trago para refletir sobre os meus quatro casamentos que juntos em tempo não completam bodas de nada – ainda que eu tenha sempre pensado que seriam “para sempre” -, e sobre a possibilidade de assim como muitos solteiros felizes que conheço, seguir sozinha os próximos tempos. Quem sabe completo bodas de “solteirice” e faço um festão ou escrevo um livro aos cem anos de solidão? Nossa, é muito tempo! Cinqüenta, quem sabe, vinte... Dez?

Quem me conhece vai garantir que não consigo ficar dez anos solteira. Talvez tenha razão, é melhor ser mais realista. Ficando longe do buquê da minha prima, vou tentar comemorar bodas sozinha aos seis meses sem par.

Pôxa, eu acredito nessas coisas! Amor, romance e casamento. Veja só, enquanto muitos casais estão se separando aos quinze anos de união, minha prima e seu companheiro vão se casar. Renovam seus votos neste duradouro “amor eterno”.

Vou lá na festa da minha prima dar um grande abraço no amor e pegar de volta o meu sorriso que você levou embora.

10 comentários:

Sidnei Miranda disse...

Oi Morgana.
Bom texto!
Estou completando 16 anos de casado em 28 de setembro do corrente. Não nos separaremos já-mais.
E olha que tem, pra somar, mais 6 de namoro!
.......eu amo essa mulher e sou muito amado por ela.........

Então, amiga escritora, temos afinidades pela escrita, ainda que não muito pelos temas. Agora, sabe que eu gostaria muito de umas opiniões de escritores como você né?
Peço, então, que você entre no meu blog (que eu mesmo não tenho gostado muito - tem resquícios meus lá) e se tiver paciência, leia algo e dê sua opini]ão, que me vai ser de grande utilidade e vai me fazer muito gosto.
Certo, então tá combinado!

Valeu, abraço, beijo.

Sidnei Miranda
www.sidneimiranda.blogspot.com

Julia Pessoa disse...

q lindinho!

Anônimo disse...

Morgana, o amor ainda está por aí... apesar do "de
modê", apesar dos pesares... ainda está por aí. É em
cima do amor que o planeta Terra está em arrumação... rumo
a um salto quântico, rumo a uma oitava superior... Carinho em
seu coração. Lindo o que você escreveu... Lú7

Anônimo disse...

tomar um trago e refletir sobre o amorrr? coitado do garçom... :)
mas eu concordo com vc...
a loucura sabe mais sobre o amor..muito mais...
adoro td que vc escreve.
abraços

Jacqueline disse...

Morgana, que honra, prima!!! Inspirei uma de suas maravilhosas crônicas! Adorei!!! Beijos, Jac

Anônimo disse...

Em Tempo - que não vai Longe: acabei de ler um bem sortido punhado de suas belas crônicas. E também lhe sou grato pelo prazer que me proporciona! Quero, mais que muito, que suas letrinhas transponham o Vozeirão e instalem a Algazarra nos corações dos seus benditos leitores. E que se multipliquem as perguntas cujas respostas já vão Longe: para além da China, pode ser que repousem dentro de um envelope brasileiro, postado num possível fundo do pote de um arco-íris em Ping Pong! São os votos de um modesto conterrâneo e leitor de estrelas da palavra (e prazer) - tais como Rubem Braga, Carlinhos Oliveira e poetas como Geir Campos, Marly de Oliveira e Elisa Lucinda...

florapacobahyba disse...

Olha, fui citada na crônica!
Adorei o texto.
Te espero dia 15, beijos.

Anônimo disse...

Olá, Morgana.

É a primeira vez que faço um comentário em seu blog. Achei maravilhoso o texto que fala do casamento. Me senti tocado com o texto, principalmente pelo fato de ter ficado casado por 9 (nove) anos e não ter conseguido menter a união. Mas... sem querer me justificar, e já me justificando, fizemos o possível e hoje, graças à siceridade mútua e posicionamentos sempre no sentido de ajudar um ao outro, hoje somos grandes amigos, e podemos criar nosso filho sem nenhuma restrição ou desconforto.
Adoro seus textos, leio sempre, e gostaria de contribuir com um pequeno "pitaco". Quando recebo o e-mail avisando de um novo texto, está se fazendo uso da palavra "blogue" (com "gue"), onde seria apenas "blog". Caso tenha sido proposital, para facilitar a leitura, perdoe-me a intromissão, pois faço este apontamento com o objetivo de ajudar.
Abraços,

Jota Lopes

Morgana Pessôa disse...

Jota,

Obrigada por seu comentário. Quanto à sua dúvida, é o seguinte: "blogue" com "ue" é o aportuguesamento da palavra original. Exemplos desse aportuguesamento, vemos em abajur (fr: abat-jour), espaguete (it: spaghetti), réquiem (lat:requiem), vade-mécum (lat:vade mecum), drinque (ingl:
drink), múnus ( lat: munus), ônus (lat: onus), quiosque (tur: kioxk), kyrie, eleison (gr: quirielêison), memorando (lat: memorandum), etc.

Anônimo disse...

minha querida ameo seu texto , sua amiga foi inteligente, conviveu para ratificar a união depois. Deve ter descoberto que casa-se com os defeitos e não com as virtudes. É um dos motivo de longevas uniões. Mesmo porque trocar de marido é só trocar de camisa como diz minha vó. Mas vale a pena continuar tentando, não desista, homem e mulher são complementos reciprocos. bjs.