segunda-feira, novembro 27, 2006

Natal dos Escritores e da Cultura

Natal-RN, 27 de novembro de 2006

Por força de acompanhar meu marido em sua brava investida para ingressar na Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e tornar-me, enfim, a mulher do maior regente do planeta, estou aqui em Natal-RN, desde 23 de setembro, e já estava pra lá de cansada de criar modas culturais para este ou para aquele, e de tanta praia - por mais que belas sejam. Enfim, quando tudo parecia somente este mar e esse céu, aconteceu por aqui - e olha que eu já desconfiava que pudesse acontecer - um Encontro de Escritores.

Num espaço alternativo, criado para abrigar pelo menos mil pessoas, quase mil lá estiveram por dia, além, é claro, de nomes importantes como Ruy Castro e Heloisa Seixas, Marcelino Freire (ganhador do Jabuti 2006 por seu "Contos Negreiros"), Antonio Prata, Nelson Motta, Antonio Cícero, alguns escritores da terra e, ainda, Jorge Mautner que debateu com Affonso Romano de Sant'ana sobre o tema: Periferia e Centro.

Sant'anna disse que o centro tende a abraçar a periferia, por modismo, e Jorge Mautner lembrou que somos tudo farinha do mesmo saco, mas que há esperança para o mundo. Um gênio!

Ambos me parecem corretos, na medida em que o centro tende a alargar seu diâmetro abraçando a periferia e anexando-a a si, já que esta é sub-produto do próprio centro. O que acontece, então, é que uma nova periferia surge de tempos em tempo, mais precisamente, cada vez que os "excluídos da hora" passam a fazer parte do "cast" central. A pergunta que surge é: quem será hoje esta periferia cultural que surge e será que a estaremos abraçando daqui uns tempos?

O Marcelino Freire, que trabalha como revisor numa agência de propaganda, disse que não responde por disciplina quando o assunto é escrever, pois que se baseia mais na inspiração do que na expiração, no que foi rebatido por Antonio Prata para quem a Literatura garante integralmente seus proventos.

A experiência me diz, entretanto, que escrever só por inspiração é uma delícia, mas delícia maior é poder viver exclusivamente da Literatura, mesmo que para isso, vejam só, seja preciso escrever laudas e laudas diariamente, ou, como disse o Prata - que colaborou na novela "Bang-Bang", da Rede Globo -, três longas-metragens por semana.

De tudo, o que mais valeu nessa história toda, foi ter redescoberto este "Estado de Coisas" que é o Rio Grande do Norte, onde nasci, pois, puxando o novelo pelo fio do Encontro dos Escritores, venho descobrindo um mar de cultura num céu de novas revelações.

Sobre o Encontro dos Escritores, destaco, ainda, a participação do poeta Antonio Cicero e a divertida de Nelson Motta, que contou uma história hilária, com a qual finalizo este post, ilustrando-o:

Diz o compositor-letrista e produtor cultural que, na época em que estava lançando "As frenéticas" - início dos anos 80 -, a censura ainda era muito severa, resquício da Ditadura Militar. Então, ele mandou para a Rita Lee a letra daquela música com a qual as meninas de Dancing Days estouraram, que começava com "Eu sei que eu sou bonita e gostosa..." e terminava com "Eu vou fazer você ficar louco, muito louco...". Alguns dias depois, Rita Lee lhe manda pelo correio uma fita cassete com a música e um bilhetinho:

- Nelsinho, acrescentei uma pequena coisinha na sua letra.

Nelson Motta adorou quando ouviu o acréscimo no final da música: "Eu vou fazer você ficar louco, muito louco... Dentro de mim".

Era realmente genial "o dedo" da Rita na letra, mas como é que ele ia passar essa letra pela censura? Nunca conseguiria. Então, num lance de genialidade, à altura da contribuição de Rita Lee, ele tirou o trecho do fim da música e o colocou no início da letra, ficando da seguinte maneira:

"Dentro de mim, eu sei que eu sou bonita e gostosa...", terminando simplesmente com "Eu vou fazer você ficar louco, muito louco."

Ora, nada impedia o recomeço da música, deixando-a como sugeriu Rita Lee, gravaram As frenéticas e ficou conhecida por todos nós.

8 comentários:

SOCEX disse...

Parabéns guerreira. Mais uma conquista. Sucesso e Prosperidade.
Beijos

Anônimo disse...

Adorei,
claro, que é super bem escrito e divertido, afinal, vc é d+.
bjsssssssssssssss

Anônimo disse...

mui querida
me diga o que foi "criar modas culturais para este ou para aquele" que te cansou...
já das praias...
bjs

Morgana Pessôa disse...

Para Maria Luiza, criar modas culturais foi idealizar e planejar dois projetos culturais, um dos quais o Ciclo Franco-brasileiro de Leituras Dramáticas para a Aliança Francesa de Natal. O outro, como você sabe, é a biografia de Dona Alice Pessoa.

Anônimo disse...

Morgana, que histórias incríveis! Estás ainda em RN?
Como vai a vida? Aqui vamos bem. Sua prima mais querida acaba de ser admitida para o doutorado e agora você tem duas primas mais queridas fazendo doutorado! Dá pra aguentar tanta academicice?

beijinhos
Jac

Anônimo disse...

Morgana...
Criar é um dom divino que você possui...
Acho magnifico quando você retrata a realidade brasileira ,até então esquecida por muitos; é tão bom ver que existem personagem tão carismatico e tão divertidos de se ler que deixamos a imaginação nos guiar para longe e nos faz participar atentivamente de cada fato dessa historia..
Parabéns , e continue nos dando esse prazer da leitura sempre com um bom humor e com qualidade.
Beijocas;
Cacia

Anônimo disse...

oi atoreii muto bom !1 seus comentarioss !! um grande abraço!1 cosme brailko.. bjs

Anônimo disse...

eta, que Alice se casou e teve filho, hem...muito boa...parabéns.