Andou muito até chegar ali, sem vontade de chegar, sem lugar para chegar, sem lua. Andou mais do que devia; mais do que podia. Andou a esmo, olhar no nada e nada para ver. Andou sem rumo, sem meta, sem pressa, sem lua.
Mas cansou. Cansou de andar, de olhar e não ver; cansou do martírio diário, da casa, trabalho, salário. Cansou e parou; parou e pensou:
- Táxi!!!
Pneus gritaram em meio aos palavrões. A avenida lotada de seis-e-meias na loucura que leva do nada ao lugar nenhum. Assim o táxi desviou do meio para o canto da pista enfrentando ônibus e buzinas até parar e resgatá-la de seu inferno.
Cezário abriu a porta agilmente com uma das mãos enquanto a outra segurava o volante, pronto para guiá-lo de volta ao caos.
Cléo entrou rapidamente. Ao deslizar do braço do homem protetor à sua frente para fechar a porta, sentiu-se estranhamente confortável dentro daquele veículo desconhecido.
- Vou ligar o ar-condicionado para você.
E, sorrindo, acendeu a luz interna para que Cléo acertasse o encaixe do sinto de segurança.
- Por que ele sorri assim pra mim? - Estranhou.
O carro mergulhou novamente na avenida barulhenta e engarrafada.
- Vou ficar logo depois do túnel. - Informou a passageira.
Como se ignorasse a ordem, Cezário admirou:
- Viu a lua? Está linda!
- Por que ele fala assim comigo? - Pensou a mulher. E respondeu:
- É...
Andou tanto, olhou tanto e não viu nada. Tanto se cansou e não viu a lua.
- Mas não tinha lua até agora há pouco!
E não havia mesmo. Até aquele momento não havia lua, não havia rua, não havia motivo, sorriso, não havia nada.
- Está mesmo linda a lua! - Cedeu Cléo à vida um pouco de atenção. - É cheia?
- Cheia de si! - Garantiu o homem. - É aqui mesmo que você vai ficar?
Olhou pela janela, o destino escolhido tinha chegado. Deveria descer do táxi e seguir sua vida: mais uma noite, mais um dia, outra noite, outro dia. E certamente a lua desapareceria de novo.
Era incapaz de responder àquela pergunta. Não sabia o que dizer. Abaixou a cabeça, calou-se, abriu a bolsa enquanto o carro reduzia a velocidade e ameaçava encostar. Já soavam as buzinas e os pneus.
Cezário parou o carro, acendeu a luz interna e estendeu o braço à frente da mulher para abrir a porta. A mão de Cléo era quente e um pouco suada, mas seu toque no braço do homem, segurando-o firme e delicadamente o fez recuar e a porta permaneceu fechada.
De sua grande bolsa rajada Cléo retirou devagar, meio sem jeito, tímida, uma garrafa de vinho. Acariciou a garrafa como um presente sagrado.
Apagou novamente a luz, apontou a “lua cheia de si” e moveu o carro.
- Daqui pra frente não há mais túneis. - Disse o motorista.
Cléo sorriu aliviada.
Mas cansou. Cansou de andar, de olhar e não ver; cansou do martírio diário, da casa, trabalho, salário. Cansou e parou; parou e pensou:
- Táxi!!!
Pneus gritaram em meio aos palavrões. A avenida lotada de seis-e-meias na loucura que leva do nada ao lugar nenhum. Assim o táxi desviou do meio para o canto da pista enfrentando ônibus e buzinas até parar e resgatá-la de seu inferno.
Cezário abriu a porta agilmente com uma das mãos enquanto a outra segurava o volante, pronto para guiá-lo de volta ao caos.
Cléo entrou rapidamente. Ao deslizar do braço do homem protetor à sua frente para fechar a porta, sentiu-se estranhamente confortável dentro daquele veículo desconhecido.
- Vou ligar o ar-condicionado para você.
E, sorrindo, acendeu a luz interna para que Cléo acertasse o encaixe do sinto de segurança.
- Por que ele sorri assim pra mim? - Estranhou.
O carro mergulhou novamente na avenida barulhenta e engarrafada.
- Vou ficar logo depois do túnel. - Informou a passageira.
Como se ignorasse a ordem, Cezário admirou:
- Viu a lua? Está linda!
- Por que ele fala assim comigo? - Pensou a mulher. E respondeu:
- É...
Andou tanto, olhou tanto e não viu nada. Tanto se cansou e não viu a lua.
- Mas não tinha lua até agora há pouco!
E não havia mesmo. Até aquele momento não havia lua, não havia rua, não havia motivo, sorriso, não havia nada.
- Está mesmo linda a lua! - Cedeu Cléo à vida um pouco de atenção. - É cheia?
- Cheia de si! - Garantiu o homem. - É aqui mesmo que você vai ficar?
Olhou pela janela, o destino escolhido tinha chegado. Deveria descer do táxi e seguir sua vida: mais uma noite, mais um dia, outra noite, outro dia. E certamente a lua desapareceria de novo.
Era incapaz de responder àquela pergunta. Não sabia o que dizer. Abaixou a cabeça, calou-se, abriu a bolsa enquanto o carro reduzia a velocidade e ameaçava encostar. Já soavam as buzinas e os pneus.
Cezário parou o carro, acendeu a luz interna e estendeu o braço à frente da mulher para abrir a porta. A mão de Cléo era quente e um pouco suada, mas seu toque no braço do homem, segurando-o firme e delicadamente o fez recuar e a porta permaneceu fechada.
De sua grande bolsa rajada Cléo retirou devagar, meio sem jeito, tímida, uma garrafa de vinho. Acariciou a garrafa como um presente sagrado.
Apagou novamente a luz, apontou a “lua cheia de si” e moveu o carro.
- Daqui pra frente não há mais túneis. - Disse o motorista.
Cléo sorriu aliviada.
5 comentários:
Não sei se já lhe disse, mas por vezes venho aqui e gosto muito.
Geraldes de Carvalho
Ainda não disse, mas fez bem em dizer agora! Fiquei muito feliz com sua visita. Obrigada!
Muito linda a sua lua!
As pessoas a cada dia que passa, não estão mais vendo esta Lua.
Mas ela é linda, maravilhosa e apenas com um único movimento, com uma única atitude poderemos ver e sentir o bem que ela nos faz.
Parabéns, Morgana por nos mostra-lá.
Sou fã das suas histórias, Morgana. Mas esse comentário sobre o caos que é a saída do trabalho está particularmente fantástico: "A avenida lotada de seis-e-meias na loucura que leva do nada ao lugar nenhum."
Até comentei com a Júlia e com o Zé.
Bjs. Ione.
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